sábado, 17 de setembro de 2011

“Liberdade de expressão”. A nova faceta da homofobia

Por: Marcos Aurélio S. Souza 

“Liberdade de expressão”.  A nova faceta da homofobia*

A liberdade de expressão é a mais nova justificativa para humilhar e ofender a dignidade de pessoas no Brasil. 

Foi-se a época que liberdade de expressão era um termo que atendia às novas demandas da democracia, significava autonomia de sujeitos reprimidos, exigência de respeito às minorias.  A liberdade, assim, dirigia-se a governos ditadores, às políticas retrógradas, militarista, caudilhista, fundamentalista. 

Naquela época, refiro-me principalmente à ditadura brasileira da década de 60, quanto mais políticas ditatoriais atentavam contra a subjetividade e os desejos legítimos de pessoas, politicamente desfavorecidas, mais a liberdade de expressão era necessária, e era justa também.

Hitler adoraria viver no país dos defensores de uma nova “liberdade de expressão”, que humilha os homossexuais, taxando-os de pecaminosos ou endemoniados, para ele seria a lenha ideal para exterminá-los sumariamente. Exultaria nas pregações de igrejas, ouvindo pastores destilando seu ódio àqueles que desejam semelhantes – isso não é um trocadilho. Desejar, amar, fazer sexo, casar, é preciso reprimir isso e isso se faz com uma nova  “liberdade de expressão”, para alguns católicos e protestantes. 

Antros de pensamentos libidinosos reprimidos, encarcerados em algum lugar na idade média, pela moral e pelo puritanismo, espaços alheios aos sentimentos humanos, às necessidades humanas, às diferenças culturais e individuais, as igrejas católica e protestante são os setores mais atrasados, alienados e violentos no Brasil. São eles que reivindicam, agora, a liberdade de expressão para continuar discriminando, ofendendo, diferentes pessoas de nossa sociedade. Tudo isso, sob a justificativa de um sentimento cristão, bondoso, correto e verdadeiro – nada mais hipócrita.

Justificam essa “liberdade de expressão” como a necessidade de expressar uma crítica,  não a um sujeito, mas à sua “prática ou conduta” homossexual, é preciso, segundo a “crítica” deles,  retirar e enxotar “isso” do mundo.  Como se fosse possível retirar a alma de alguém, o seu sangue, suas vísceras, e mandar ele andar, como faziam os alemães na segunda guerra, que retiravam partes do cérebro de pessoas, as quais inevitavelmente cambaleavam e morriam. O céu heteronormativo dos religiosos é um céu de zumbis, mortos-vivos despencando no chão, sem desejo, sem sangue, sem vida.

O kit anti homofobia para distribuição nas escolas e o Projeto de Lei da Câmara 122/06, que criminaliza a homofobia, estão chegando tarde, muito tarde mesmo. Não implementá-los, na forma combativa como foram idealizados, ao capricho de um recuo político covarde, como estamos assistindo, atualmente, seria uma “cassetada” violenta  não apenas nos movimentos LGBT, mas também nos movimentos negro e feminista. 

Sim, essa “tal liberdade de expressão” dos religiosos pode se estender aos negros. Alguns ditos cristãos podem voltar a chamá-los com mais frequência e “liberdade” de filhos de Cã (o herdeiro amaldiçoado de Noé, expulso do paraíso) como faziam os jesuítas no século XVI. Podem voltar a considerar mulheres como bruxas e queimá-las nas suas fogueiras ideológicas machistas e misóginas, como faziam os inquisidores católicos na mesma época. 

Será uma derrota das cotas, da Lei Maria da Penha, das delegacias de mulheres, uma derrota de todos os movimentos sociais de importância no Brasil. Por outro lado, será a vitória dos jovens neonazistas que matam travestis nas ruas, dos religiosos reprimidos e enrustidos, dos pseudointelectuais maldosos, que rejeitam a história das lutas sociais.

O céu (um lugar legal para se viver) do nosso mundo, se for possível construí-lo, não é certamente o céu de um religioso reprimido. É preciso reconhecer e respeitar conquistas políticas e sociais, histórias reprimidas, sexualidades, conhecer e reconhecer todas formas de viver, todas as culturas (e isso não é “liberdade”, ou seja, “maldade” de expressão). Afinal, como  diz um grande amigo: “no amor todos os pontos de vistas são válidos”.


4 comentários:

  1. olá prof.Marcos,
    há quanto tempo não tenho noticias suas!
    Recebi o email sugerindo seu blog. Bem, dar pra fazer um livro.
    Agora eu não concordo com o fato de defender apenas um ponto de vista em relação à pregação das igrejas evangélicas sobre o tema homossexualismo. A Bíblia de fato condena o homossexualismo de todas as formas,seja como ativo, seja como passivo. Mas também a Biblia nos ensina a amar as pessoas mesmo que não seja cristã, mas condenar s as obras das trevas, como bebedices, traição, homossexualismo (o ato, não a pessoa), palavras torpes, mentiras.
    Eu também condeno a homofobia, mas dizer que o ato homossexual é certo, isso não. Respeito quem é homossexual, trato com dignidade a qualquer pessoa. Mas tenho que alertá-las do perigo em que estão seguindo.
    Um abraço, fique na paz, que a graça salvadora de Jesus alcance a sua vida.
    jeronimo araujo.

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  2. Jerônimoo.. Saudade de ti. Vamos lá. Vou retirar de você seus desejos, sua fome, sua carne, seu sangue, veremos o que sobra, talvez alguma coisa parecida com bagaço de laranja. Tirar o "homossexualismo" de alguém é a mesma coisa, primeiro que isso não é um ato, ou uma atitude, é a própria pessoa: seus desejo de amar e ser feliz naturalmente. O incrível é como esse tipo de pensamento pode circular sem se dar conta da violência que significa. Jesus não deveria ser tão cruel assim. A bíblia nos ensina amar, então ame, não condene nem pessoas, nem as “atitudes” que constituem a própria natureza dessas pessoas. Fico com as palavras de Desmond Tutu, um dos maiores religiosos e cristãos do mundo: "Penalizar alguém por sua orientação sexual é o mesmo que penalizar alguém por algo que a pessoa nada pode fazer a respeito, como a cor da pele. Ao fazer isso, a Igreja persegue um grupo que já é perseguido". Fica bem e em paz também.

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  3. As religiões atraem pessoas, sobretudo aquelas que precisam de algum conforto, enfim. Por outro lado, muitas religiões moldam a "verdade" que desejam implantar em seus "dogmas" e "filosofias" como único caminho para a salvação. Pergunto apenas: salvação de quem e do quê? Talvez esconder de si a verdade seja o mais fácil caminho para não enxergar as nossas próprias imperfeições e, temos inúmeras.Crer em Deus e CRER NO HOMEM não é a mesma coisa.O disfarce é uma grande faceta para cobrir o que se pensa, então muitos camuflam suas verdades interiores e perdem em si mesmos sua própria "salvação". Afinal, o que é a verdade?
    Marcos, não apoio seu texto, não condeno também, vá, e siga em paz. Posso pensar esse texto assim: contemporâneo demais para muitos religiosos. Ser ou estar na religiao? PENSAR.

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  4. Oi Jane. Obrigado pelo seu comentário, sua franqueza. bjos

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