Por: Marcos Aurélio S. Souza
Há muito estou querendo escrever um texto para (e sobre) as mulheres. E hoje, ouvindo a letra de um famoso pagode muito tocado aqui em Salvador, aproveitei um trecho como mote, criei o título e comecei a escrever. Ainda que muitos desses pagodeiros sejam machistas e só enxerguem a mulher como bunda, vagina, pernas e peitos, há sempre algo que se possa aproveitar. É mesmo possível inverter tudo o que se possa ridicularizar uma mulher nessa cidade, porque simplesmente elas estão "dominando o pedaço".
A despeito de uma pesquisa que foi divulgada, indicando Salvador como a cidade com o maior número de “mulheres sozinhas” do Brasil (tal pesquisa apesar de apontar o número de homens, enfatizava o número das mulheres, como no destaque da Revista Veja: http://veja.abril.com.br/270405/p_126.html) há algo imponentemente feminino nessa cidade, que certamente machos desocupados não se interessariam em pesquisar. É impossível não notar uma presença muito significativa das mulheres onde quer que você vá em Salvador, até em profissões tradicionalmente masculinas, como taxistas, motoristas de ônibus, cobradoras, policiais etc. As “mães solteiras” por opção e não apenas por falta de, e as chefas de casas estão em maior número também. Isso não resulta apenas da chamada revolução feminina, de uma demanda do mercado ou duma vantagem numérica (como a revista insinua) isso é, sobretudo, uma mudança paradigmática, que nós homens (e também algumas mulheres) precisamos tentar entender e assimilar rapidamente pra não ficar fazendo e falando besteira. Eu acho que a idéia mais importante na conclusão da pesquisa dirigida pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) não deveria ser "quanto mais a mulher amadurece, menos chances tem de encontrar um parceiro", mas: quanto mais a mulher amadurece, mais criteriosa e esperta ela fica em relação a escolha de um parceiro. E isso não é apenas uma exigência dela, porque estão adquirindo elevado status econômico e educacional e querem isso dos seus parceiros, mas uma estratégia de cautela e um cuidado inteligente de si.
A vida de qualquer homem depende muito e cada vez mais das mulheres aqui em Salvador, e eu aposto ser uma realidade também em outros cantos do mundo. Temos cada vez mais mulheres decidindo a nossa vida, o nosso emprego, a nossa satisfação emocional e material. A solidão das mulheres, no caso das heterossexuais (eu ainda quero saber por que não deram igual importância ao número de homens solitários, e porque ainda não fizeram uma pesquisa com homossexuais) pode significar muitas coisas e talvez seja mais preocupante para os homens heterossexuais, sozinhos ou não, do que para elas mesmas. Há uma possibilidade enorme de que a maioria dos homens simplesmente não desperte o menor interesse como companheiro fixo, ou como companheiro provisório, para a maioria das mulheres (e isso sim é preocupante para nós) porque elas têm uma consciência maior do que a nossa, a respeito daquele clichê: “antes só do que mal acompanhada”. Elas certamente já presenciaram vidas infelizes de mulheres “acompanhadas” em suas próprias famílias, experiências de amigas, colegas, irmãs, tias que sofreram muito com seus parceiros/esposos/namorados violentos, machistas, burros e irresponsáveis. Há também uma necessidade premente de se fazer um recorte racial nessa pesquisa, o que certamente resultaria numa quantidade bem superior de mulheres negras, optando por essa “solidão” do que de mulheres brancas. E isso ainda é reflexo de uma sociedade, onde duas pragas juntas, o racismo e o machismo, contra a mulher são muito mais devastadoras, sendo uma opção segura a de viver só, do que com um companheiro abjeto e repugnante.
É também necessário pensar na possibilidade de que mulheres, nessas circunstâncias, vivam bem a sua sexualidade “solitariamente”, ou até vivam bem sem uma vida sexual (como alguns poucos homens também vivem) e isso não seja exatamente um problema ou tenha algo a ver com a falta de “pretendentes”, ou mesmo com a idéia de uma “solidão” (em nossa cultura machista, sempre relacionada à impotência e a carência femininas). As mulheres estatisticamente também podem estar preferindo uma vida amorosa (no sentido de sexo, inclusive) mais casual, sem compromisso, e isso é provavelmente uma boa forma de vivê-la nesse mundo.
Elas, nesse sentido, certamente estão aprendendo mais com a história do que nós homens. E quando eu ouvia o pagode cuja letra procurava expressar um corpo feminino no gesto sensual de “perereca pra frente, perereca pra trás” (uma daquelas metáforas para o órgão sexual feminino), eu fiquei imaginando um corpo e uma mente femininas que também expressavam: “tudo bem, mas 'sai fora', porque eu não sou pra qualquer um”.
adorei o texto Marcos, vc conseguiu sintetizar o pensamento feminino atual. Hj temos a completa condição de ditar o ritmo de nossas vidas em questões profissionais, pessoais e sociais. No q se diz a respeito das relações amorosas, por experiências, muitas vezes desagradáveis, estamos selecionando nossos parceiros através de critérios sim! Não queremos mais "urubus" voando em nosso território, queremos pessoas que ao invés de serem parasitas em nossas vidas, nos acrescentem e nos motivem a viver-mos cada vez mais plenas.
ResponderExcluirClamamos que volte escrever!!! Textos assim, falados de um lugar masculino e, felizmente, com essa sensibilidade alem do gênero, precisam existir e ser mais divulgados! Momento mais do que oportuno para se fazer neste dia 08 de março!
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