quinta-feira, 20 de outubro de 2011

QUESTÃO SEM NEXO

(Nota do blogueiro: Fui surpreendido com a afirmação de um estudante de Letras: "Estou escrevendo um texto pra colocar no seu blog". E a condicional que soava como pergunta e desafio "claro, se você aprovar". Gostei da afirmação e da condicional desafiadora e decidi que publicaria independente do que se tratasse. Quando li, tive a certeza que os leitores desse blog gostariam. Um texto sensível e corajoso, com reticências que inquietam. Embora, acredite que o mais importante numa pessoa é o seu exterior, porque o interior é mistério, obrigado pelo texto, Lucas!)

Por: Lucas Rodrigues Almeida

Familiares, amigos e conhecidos costumam me questionar qual seria a minha orientação sexual. Nunca compreendi bem porque minha orientação atrai mais atenção das pessoas do que meu caráter e minhas atitudes. Hoje já me acostumei com esse tipo de questionamento (ou dúvida?) e não vejo mais problemas em responder quando me perguntarem:  Lucas, qual é a sua orientação sexual?
 
Irei te responder sem receios. Ainda não fiz essa pergunta a mim mesmo. Te juro que nunca me questionei. Risos. Por isso, só posso te responder que sou bem resolvido e bem feliz nas minhas escolhas. Não gosto de qualificar ninguém quanto à orientação sexual. Acho tão imaturo quem é adepto dessa prática.

Digamos que não sou devoto de rótulos apesar de achar essenciais em supermercados. O que seria dos produtos nas prateleiras sem os rótulos? Iríamos comprar leite para o café da manhã e quando chegássemos às nossas casas descobriríamos que compramos extrato de tomate. Não se desespere caro consumidor, pelo menos o molho da macarronada do almoço estaria garantida naquele dia. Concordo que seria uma completa confusão nas compras de produtos nos supermercados, mas acho desnecessário rotular seres humanos. Qual seria a finalidade? Separar pessoas por grupos como os produtos são organizados nas prateleiras dos supermercados? Enfim, não vejo utilidade em classificar pessoas.

Depois acredito que exista nas pessoas algo mais interessante para ser observado do que sua orientação sexual, ou seja, o interior do ser humano. Não compreendo o porquê que os indivíduos se preocupam e oferecem certa importância aos interesses afetivos alheios. Deve ser porque essas pessoas não conseguem resolver os problemas da sua própria vida afetiva e acreditam que questionando a dos outros adquiram experiência para os seus dilemas amorosos. Enfim, existem tantas coisas a serem observadas e comentadas, mas as pessoas se atentam com coisas tão fúteis quanto à preocupação pela orientação sexual de alguém. Ou a resposta vai interferir em alguma coisa?

Acredito também que pessoas bem resolvidas tem escolhas bem definidas. Por isso, considero a minha sexualidade bem resolvida e, assim, não preciso ficar me questionando para suprir a curiosidade de ninguém. Não vejo necessidade nisso.

Acredito ainda que tenho escolhas bem definidas. Faço Licenciatura em Letras, porque acabei me afeiçoando pelo curso e não pela quantidade de dinheiro que acredito que devo ganhar. Quero ser bom no que faço e o dinheiro é a consequência do meu trabalho e decorrente da minha boa administração. Outro fator que me considero bem resolvido é em relação às amizades que adquirir. Tenho amigos de todos os tipos: que usam drogas lícitas e ilícitas; morenos, loiros e ruivos; escuros e claros; virgens e sexualmente ativos; ateus, católicos, evangélicos e que frequentam o candomblé; heterossexuais, gays e lésbicas... não vejo problemas nisso e nem tenho vergonha dos amigos que tenho. Se os escolhi é porque existe algo neles que me cativou. Atenção! Sinto muito, mas não irei destruir a minha amizade com nenhum deles porque você não gostou de uma dessas descrições e também não me preocupo com o que a você está pensando agora de mim.

Sou vacinado, pago minhas contas e sei onde estou pisando. Sei que ninguém influência ninguém. Porque se alguém já se embragou, fumou cigarro, usou machona ou já teve uma relação homoafetiva, não significa dizer que essa pessoa foi influenciada por maus amizades. Ninguém é obrigado a fazer algo que não senti vontade de fazer. Ou você defende aquele ditado preconceituoso que diz: diga-me com quem tu andas que direi quem tu és? Se, de fato, esse ditado for verdadeiro, eu sou a exceção. Tenho as minhas necessidades próprias e acredito que você também deve ter as suas. Pergunte a um heterossexual se ele beijaria alguém do mesmo sexo? Ou a um homossexual se ele transaria com uma mulher? Ou ainda a um dependente químico se quando ele usou primeira vez não foi por curiosidade? Finalmente, chegamos a palavra-chave a curiosidade. A resposta está na curiosidade e não na influência de alguém. Ou você nunca foi jovem e não teve as suas curiosidades?
 
Agora, eu me pergunto: você ainda está ansioso(a) para saber a minha orientação sexual? Ela está bem resolvida e eu, hoje, me considero feliz nas minhas escolhas. Sim, eu estou feliz. Então, isso é suficiente pra mim. Agora, tenho certeza que pra você também...

Tentei te responder. Juro! Risos. Desculpa, se caso não foi a resposta que você esperava, mas nem toda pergunta deve ser respondida. Ou você já conseguiu responder a célebre pergunta: quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha?

8 comentários:

  1. Parabéns ao autor, maravilhoso! Todo texto justifica os motivos pelos quais o admiro tanto...

    ...Rsrsss... Isso, é suficiente!

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  2. Oh meu querido Lucas! Para alguém que te conhece a tão pouco tempo, creio que sei demais sobre você. E vou anunciar aqui para todo mundo: na verdade, minha gente, Lucas é UM FOFO. Cativante, carinhoso, atencioso. Uma pessoa apaixonante! E é isso que me basta, sabe? Já é o suficiente para querer e gostar tanto da sua amizade. Agora venho descobrir que além de tudo escreve tão bem. Tá no curso certo! Rs. Adoro você, meu lindo. Beijos!
    Ayrane

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  3. Lucas, você é uma pessoa adorável e muito especial. Gosto muito de você e de ter a sua amizade. Nunca questionei a sua orientação sexual porque acho que isso é uma coisa sua, íntima. Sempre pensei que se você quisesse me falar sobre o assunto falaria sem precisar que eu o questione. (se ainda quiser falar sobre o assunto, estou aqui!) Você é um ser humano incrível. Como todos os outros tem suas virtudes e seus defeitos. Afinal, ninguém é perfeito! Mas a sua orientação sexual não é um defeito, para mim. Nem é motivo para que eu não aceite a sua amizade nem você como SER HUMANO. Independente da sua orientação, você é e espero que sempre seja meu amigo. Adoro você, amigo!
    Taniela.

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  4. Adorei,vc é maravilhoso amigo! Te adoro
    Paula Monique!

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  5. Está certo, Lucas, e eu o parabenizo pela maneira tão clara e cômica de tratar de uma questão realmente sem nexo como o é a mania de as pessoas quererem saber a orientação sexual do próximo. Há coisas que não precisam ser respondidas, apenas vivenciadas, e nós, como protagonistas desse grande espetáculo que é a vida, temos apenas de viver e deixar viver! Ser feliz e pleno com o que vulgarmente rotulamos de 'orientação/condição sexual faz um bem incrível. E todos temos o direito de ser feliz! Sucesso, amigo! ;D

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  6. LOBINHO. Você já esperava por todas essas questões, afinal vc é único, inteligente, futurista, dadaísta, enfim, sabe como é, né? Não posso puxar teu saco porque é muito óbvio e tbm não combina comigo. Texto bom, sentimentos reais, os tapas na cara funcionam pra "gente" poder soltar o "verbo" mesmo. Acredito que ser humano não é "estar humano" e que por conta disso a sociedade e boa parte dos que ainda sofrem com suas mazelas são talvez infelizes demais para entenderem que sexo não se discute, além do mais, o que interessa saber a respeito do que o outro sente? É Lucas, você precisa agora criar coragem e vamos, escrevi "vamos" criar um blog para finalidades mais específicas. Essa carona no bolodomundo é boa, mas o espaço é grande e as temáticas são imprevisíveis. SEM PARABÉNS. Avante.
    bjs

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  7. A capacidade de resolução dos seres humanos, por vezes, me impressiona. Não num sentido positivo, mas pela mediocridade de como resumimos e categorizamos tudo na vida em meia dúzia de classes. Me perguntaram, outro dia, o que achava das relações homoafetivas e sobre os pápeis dos parceiros como ativos e passivos numa relação. Respondi categoricamente que as pessoas envolvidas nessas situações não estão interessadas em definir seus papéis e sim interessa muito mais as trocas e resultados que tais relações podem trazer. Preocupa-me o fato de que talvez estejamos regrendido em nossos quetionamentos. Precisamos sair da superficialidade dos questionamentos. Pensar em questões mais maduras e que gerem aquele incomodo que pedem mudança. É isso que consigo ver nas suas palavras Lucas e além delas.

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  8. Lucas querido, li seu texto agora.
    Que delícia de resposta!

    É isto mesmo: se você está feliz, que importa a curiosidade alheia ou os rótulos sociais? Como sua professora e amiga, só me interessa a sua felicidade. Sua opção sexual é uma decisão SUA e de mais ninguém.

    Parabéns por assumir as rédeas da situação e não se omitir diante desta ridícula pergunta:
    qual é a sua orientação sexual?

    Tenha sempre muita coragem para ser você mesmo.
    Amamos você exatamente como você é. Beijos.

    Zilda Freitas

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